terça-feira, 16 de agosto de 2011

Eu tinha medo de ETs...



Eu tinha medo de ETs até outro dia. Até ontem, quase hoje, porque uma noite mal dormida e cheia de pensamentos pode levar à confusão mental. Eu tinha medo e fiquei refletindo até descobrir, puxa vida, que o ET sou eu! Nou sou deste mundo Terra de sensações efêmeras, relações passíveis de nenhuma importância, lado único de ônus de prova.
Gosto da liberdade de poder falar e sentir, dessa que se materializa na sensação do vento na cara e da oportunidade proporcionada pelo toque, a troca de olhares, a palavra (que é meu domínio sobre o mundo... salve Cecília!).
Entre minhs sensações deliciosas, admiro os cavalos. Imensamente. Não sei mais montar como fazia quando criança no sítio, nem tenho mais coragem porque gosto tanto que acho que eles servem para serem apreciados apenas. São espetaculares quando correm, têm uma beleza ímpar e te olham como se convidassem a um carinho. São seres divinos.
Mas também amo as invenções humanas que se assemelham a criações divinas. Acho isso dos aviões, são uma de minhas poucas paixões. Eu fecho os olhos e me lembro da emoção de voar pela primeira vez. A gente vai perdendo o chão e uma vez ali, não tem como desistir da viagem, só se quer continuar. A gente fica nas mãos do piloto, um nobre desconhecido e, mesmo assim, admirado e cheio da nossa confiança. Depois da decolagem, a estabilidade causa a impressão que são só vc e o silêncio dos céus interrompido pela força das turbinas. Me lembro que nessa minha viagem fiquei vidrada e sentia vontade de buscar as nuvens.
Quando temos a chance de olhar o mundo do alto, tudo parece tão pequeno, ao mesmo tempo tão grandioso de pensarmos nos terráqueos como pontinhos de luz a se movimentar lentamente sobre o solo, buscando seus espaços no universo que há instantes era só do outro.
Aviões de todo o porte são imponentes, diligentes, fortes, atraentes, carregam essas vidas observadoras com uma leveza que, em princípio, ao vê-los de perto, nem parece possível.
Mas há tantas coisas que se revelam diferentes do que eram no começo e às vezes continuam fortes. De qualquer forma, com poucas exceções das quais eu me lembro agora, como o veneno, é preciso dar abertura e experimentar as novidades para saber se valem à pena.
Entrar para uma batalha pode ser desde um desafio até uma necessidade e não importa o tamanho do exército, mas a forma como se reage durante a luta é o que define o resultado. Mas pior do que a derrota, é a falta de coragem, porque ela paralisa, fortalece o oponente, leva embora a confiança.
E não é a distância dos objetivos que por vezes torna as coisas impossíveis; é a inabilidade em lidar com a possibilidade da transformação.
Uma batalha dessas é como o esforço de tentar fazer alguém feliz. Requer cuidado e atenção, como tudo na vida. As armas variam de acordo com o exército e ferem de diferentes modos.
Nessa minha descoberta como ET vejo que sou tão ingênua quanto era quando terráquea. É que sou uma venusiana, Vênus é um planeta notoriamente feminino. Sou uma fêmea ingênua num planetinha feminino e não acho ruim. A ingenuidade é uma qualidade dos bons também e está sempre nos ensinando alguma coisa.
Ontem li um conto do Fabrício Carpinejar (tem link dele aqui no blog), relatando seu arrependimento ao ter feito a irmã levar uma surra ao entregar o diário de menina dela aos pais, numa estratégia de combate definida junto com o outro irmão. Como compensação - e as compensações sempre são mecanismos egoístas - ele resolveu criar o próprio diário de adolescente. Um dia, o outro irmão descobriu e também levou o diário dele aos pais. Mas o espertinho caiu do cavalo, porque no lugar de apanhar, Fabrício quase foi condecorado. Nas frases que escrevia no caderninho todas as noites, ele afirmava coisas como "adoro lavar a louça e varrer as folhas do pátio, minha mãe precisa de ajuda para não envelhecer"; "meu pai tem sido um bom conselheiro, quero ser igual a ele no futuro"; "os irmãos são anjos que me protegem dos tropeços na escola"; "nada melhor do que uma missa para começar o domingo".
Ele colocava as mentiras no diário para viver as verdades em segredo. Driblou a ingenuidade ao aprender com a experiência da punição da irmã. A mentira o poupou e até gratificou durante anos.
Quando eu era terráquea, ainda acreditava que falar a verdade era uma qualidade, mas isso é pensamento de terrestre mesmo. Não que eu tenha passado a mentir, mas agora que sou venusiana, aprendi a deixar as verdades em segredo. Foi depois de um voo bem alto, que me fez olhar os pequenos pontos de luz e sus necessidades de ser mais do que é preciso, quando o que se é já está suficiente. A vida é isso aqui mesmo, sabe, a gente se entrega às futilidades por besteira, mas a frugalidade é o que realmente traz paz.
Mas tem coisas dentro da gente que nunca mudam, mesmo quando o céu não está pra brigadeiro. É a essência, sempre digo. Então, mesmo daqui de Vênus, ainda sou fascinada pela imponência das aeronaves, pela confiança de seus comandantes e continuo apaixonada pelos cavalos, embora dispense resolutamente os coices.

É isso, minha gente. Boas viagens.


Nenhum comentário: