segunda-feira, 28 de maio de 2012

É... esperar...

Hoje, em meio a tantas boas novas, recebi uma notícia triste e quero compartilhá-la, com o  intuito de despertar ao menos nas pessoas que me lêem o sentimento da necessidade de observar o outro com amor verdadeiro. E de saber esperar, ter esperança.
Meu amiguinho Bruno, uma simpatia de apenas 18 anos, cheio de energia e dono de lindos olhos azuis, não terá uma solução médica para seu tratamento de leucemia. A notícia foi dada pela mãe, Teresa, uma mulher marcada pelas dificuldades, mas com uma paciência e carinho nascidos na sabedoria dos bons.
Eu me encontrava com eles quase diariamente nos corredores do Centro de Oncologia do Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba. Nossas conversas alegres, recheadas de piadinhas e risadas, incluindo algumas vezes a participação de nossos enfermeirinhos, anjos iluminados, que não nos poupam de seus abraços.
Na maioria dos encontros, o Bruno carregava sua "bomba" de quimio pelos corredores, porque ficava internado e a terapia durava dias. E eu que achava longa minha espera de cinco horas naquela poltrona (que é confortável), embora nunca tenha reclamado por considerar aquela situação um período especial para mim. Teresa contou que o esforço dele (e o dela, que era sempre presente) não estava surtindo os efeitos esperados pelos médicos.
Moradores num bairro rural de Charqueada,  Teresa e Bruno têm no olhar a simplicidade fotográfica das pessoas sábias, que esperam em Deus a solução para suas aflições. Uma conversa sobre a vida deles é quase que uma lição dentro do exercício de viver das possibilidades. Apesar da humildade do cotidiano, Teresa optou por deixar o trabalho e viver "como dá" para se dedicar ao jovem filho.
E observando isso, pensei que a gente quer tanto da vida, reclama para que o tempo se estenda para darmos conta das necessidades do dia-a-dia, não pode viver sem determinada coisa, expressa o amor para sempre sem a consciência de que todo sentimento requer cuidado pela fragilidade que impõe. A vida é simples demais,  frágil demais, curta demais, valiosa demais.
Debruçada sobre o balcão, Teresa colocou os dedos na boca para esconder o nervosismo ao me falar que estavam voltando pra casa. "Não tem cura", sussurrou, desviando o olhar. Nossos olhos marejaram. Ela segurou; eu desmoronei assim que eles saíram.
Quanta dor a falta de esperança nos impõe. Essa mulher bem conhece. Seu rosto marcado pelas dificuldades e essa fortaleza interior são a prova de que nem tudo precisa ser falado, cada um sabe bem sua jornada individual. Mesmo quando há apoio, a experiência é solitária.
"Teresa, as coisas só acabam quando terminam. Tenha fé e paciência", eu disse. A gente deve viver na certeza da crença.
"O negócio é ter alegria, né, Bruno? A gente acredita em tanta besteira... você acredita em duendes, Bruno?", brinquei. E ele: "eu acredito em Deus,achoque já tá bom". Sim, fé é quando não há espaço para dúvidas. Está suficiente, meu amigo.

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