quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

La Cucaranossauro



Moro numa casa só de mulheres: eu, Mariana e todas as meninas dentro de nós. E como numa boa casa de mulheres, baratas não são bem-vindas. Mesmo assim, algumas às vezes insistem em fazer parte da nossa vida, principalmente quando está calor.
Chegam em grande estilo, pelos ares, imponentes e lânguidas, na maioria aterrissam tão rápidas que você só sabe que estão ali quando ouve o trem-de-pouso baixar e as asas se recolherem. Aí, ela começa a taxiar por sua casa, intrépida, descobridora de todo o ambiente com aqueles radares dianteiros enormes. Bem independentes essas espertinhas. 
O mais interessante é que parece que quando você mata uma, o espírito da morta permanece no ambiente, zumbizando em seus ouvidos. E mais: elas sabem que ali está havendo o velório de uma igual e resolvem aparecer, mas desta vez chegam como de submarino, muito mais silenciosas. A gente sempre tem uma intuição que tem mais uma.
Agora, imagina isso por volta da uma hora da madrugada!! Depois de se deparar com ela, tem início uma peleja que parece não ter mais fim, como o sono que você estará fadado a sentir no dia seguinte, por culpa da cascuda.
Dia desses ela resolveu aparecer quando eu fechava a porta de minha sacada. Entrou voando pela sala, quase passando sobre mim, como se estivesse perdendo a última chamada para um embarque internacional. Desesperada, como eu fiquei quando a vi, pois já sabia que perderia um tempo lhe dispensando atenção.
Mas tinha que ser, seu tamanho era de assustar! Parecia uma vaca Nelore, dotada de asas de pterodátilo, invadindo o espaço sideral da minha cápsula de armazenamento. Quem acha que é exagero, é porque não a viu. Nojentinha!!!
Dei adeus ao sono e corri procurar o SBP-Terrível-Contra-os-Insetos. Sem sucesso. Em algum lugar do passado eu havia emprestado o inseticida a uma vizinha muito medrosa, num desses empréstimos rotineiros entre vizinhos, apelidados de "Só um V" (o de Vai... e não volta).
Desarmada do ideal - afinal, o som da bicha estalando e a gosma espalhada pelo chão depois disso, não são nada agradáveis -, parti para a segunda opção natural à matança baratística: o chinelinho. Foi nessa hora que o pânico tomou conta de mim. Meu chinelinho fofo, branquinho, novo, de pelúcia, não foi feito para a guerra.
Enquanto eu pensava numa alternativa rápida e próxima, já que não poderia perdê-la de vista, observava fixamente aquela bandida percorrendo, dona de si, os contornos da minha TV. Aquelas antenas de triceratops (simmmm, as baratas são dinossauros!!), verdadeiros sensores de radar a longa distância, pareciam detectar a presença do eu-nimigo (ok, esse trocadilho foi um horror). Era eu ou ela, sendo eu já armada da tropical havaianas e ela, de suas asas. 
Bati, errei. Na verdade, joguei o primeiro pé do chinelo, no desespero que ela usasse suas asas contra mim. Ela facilitou. Foi o outro pé, certeiro para atordoá-la, mas rápido demais para o extermínio total. Última chance: a revista, material que não falta em minha casa e que, depois de servir gloriosa como arma para minha vitória, foi para o lixo junto com sua vítima. 
Fim de jogo. Game over. Vou dormir. Ventilador ligado na velocidade 3, cama arrumadinha, quarto fresco, ajeito meus travesseiros e me jogo para o descanso. Apago a luz, adoro dormir no escuro. Ajeito-me sobre meu colchão gostoso, viro-me para a esquerda, suspiro e fecho os olhos. No meio do silêncio, surge um "zumm" de asas sobrevoando meus ouvidos. Levanto correndo pra acender a luz!!! Tinhosas!! Eu disse que elas andam em bandos e se escondem no submundo??!! 
Desgraçada, vontade de chorar de raiva! Lá se foi mais uma hora perdida. Eu é que não queria aquele bicho caminhando sobre mim à noite. Por fim, sem sucesso, fui vencida. Dei uma "banana" para la cucaratcha e parti pro sono, que só durou três horas até a alvorada do dia seguinte. 


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