terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Te amo pra cachorro!

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis" (Fernando Pessoa)
Estou observando uma cena bem triste. É o fim de uma vida que esteve ligada a mim por 10 anos. Minha Anita Querida está se despedindo e parece não haver o que fazer, senão esperar que o tempo se encarregue de ser leve com ela. E comigo, porque estou sofrendo também.
Me lembro quando a escolhemos (eu, o Xande e a Mari), entre tantos outros cãezinhos, numa jaula de uma feira ridícula (dessas que vc não vê a hora que acabe porque ver os animais como produtos ali não é muito legal) no estacionamento do supermercado Extra. Optamos por ela, que era super pacata, mesmo sobre a pressão dos comentários de que o Cocker é um cão que dá bastante trabalho, come coisas e faz muita bagunça.
Seu nome era Celeste Clair, na porcaria do pedigree que nunca serviu pra nada. Ela tinha índole, isso que importava. Aprendeu tudo rapidamente, com paciência e amor de nossa parte. Nunca com agressão, jamais. Parecia ensinada... melhor, parecia que falava nossa língua. E só faltava isso mesmo. 
Um cão compreensivo, inteligente e bom como esse, só poderia ter sido de minha família mesmo, que é cheia de amor.
Suas bagunças eram deliciosas, divertidas; quando corria atrás de pássaros ou qualquer coisa que se movesse e se transformasse em um desafio, aquelas orelhas gigantes de Dumbo balançavam de uma forma que parecia que ia voar. Era muito engraçado. Eita, baguncinha boa!
Só tive uma filha minha, além da Jéssica que criei com o mesmo amor, mas minha casa sempre foi cheia de crianças, minha vida sempre foi cheia de infância. As crianças que frequentavam minha casa, muitas mesmo, sempre, graças a Deus, hoje todas mocinhas como minha Mariana, minha Jéssica, tinham a Anita como mascote. As fotos, ainda de papel, são a prova de que a turminha era muito boa... e encapetada também, graças a Deus! A infância tem esse sabor de aprontar boas malvadezas acompanhadas de um bom cachorro que late muito, enquanto voa. Na infância, a gente também tem o poder de voar e que pena de quem permite que isso se perca com a idade.
Hoje estou muito triste porque vi meu amor, minha cachorrinha, agonizando, e minha condição de ser humano poderoso se esvaindo e totalmente inferiorizada diante da minha limitação. Acabei de chegar do veterinário, onde a deixei pra ser melhor cuidada. Doeu bastante, ela ficou lá, como um pedacinho de nada, sobre o colchãozinho aquecido. Mas sei que está em boas mãos, aqueles meninos da Pata Livre foram demais, boa orientação, boas conversas nada a ver pra me acalmar.
Estou me acostumando com a ideia da despedida. Amanhã pode ser o dia da eutanásia, é provável pelo estado dela. Terei muita dificuldade pra isso, nem consigo dormir de pensar. Difícil pela perda, difícil por minha crença na espiritualidade, difícil pelo encontro com o vazio dentro de mim que isso irá provocar. Sempre condenei o impedimento da continuidade da vida, mesmo apesar da dor, que também é a condição de cada um na terra. Mas diante do que vi, despedir-me dela promovendo a oportunidade de não deixá-la mais sofrer dessa forma, estou encarando como uma prova de meu amor, gratidão pela felicidade que me trouxe em 10 anos e respeito à dignidade e tranquilidade de alguém tão importante em minha vida.
Nela depositei (sei que erroneamente, mas isso é coisa minha) a expectativa de meu segundo filho. Por aquele olhar, via a doçura do olhar reencarnado de meu avô, que tanto amei (um olhar que só eu entendo, mas que o Xande, sempre amoroso e compreensivo com minha liberdade de ideias, também dizia encontrar... depois dava um risinho do tipo: só vc mesmo, Dani! rs Pra que me contrariar? rs Ele prefere ser feliz do que ter razão, porque é sábio e generoso).
Que bom que a vida é feita de lembranças pra que a gente se acolha nelas e se fortaleça pra seguir em frente. O melhor de tudo é acreditar que, no resultado do fazer o bem aos nossos, está a verdadeira missão. A gente se sente mais leve. Mesmo quando envolve muita tristeza, mas ter fé é acreditar que tudo passa, porque temos a imensa e divina capacidade da superação. 
Só que a casa ta mais vazia agora...


NOTA: Nossa Anitinha se foi essa madrugada. Todos os animais vão para o "céu". =(




Que bonita minha Anitinha. Olha as orelhas de Dumbo!! rsrsrs