quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Date a girl who reads


"Namorei" esse texto do início ao fim. Como leitora compulsiva, de Barsa a folheto de mercadinho, digamos que esse espaço cedido a ele em meu blog pode parecer algo como legislar em causa própria. Não é propaganda, estamos cheios delas neste período de eleições, mas é quase uma defesa das mulheres leitoras: sou uma nerd moderninha, a descolada certinha, embora distante (Grazie Dio!) de puritana. 
Como canta a Rita, eu, assim como a Pagu, "não sou freira, nem sou puta". Sou leitora. Leio três livros ao mesmo tempo para conseguir segurar minha atenção em pelo menos um, desisto dos três se me dá vontade, paro e volto, concluo e posso recomeçar o mesmo livro para degustar de novo.
Livros são obras de arte. Precisam ser contemplados. E o que mais me intriga é a ousadia do autor, a coragem de arriscar a oferecer um pedaço tão grande de si aos outros. 
Ler é como fazer amor: tocar, sentir a textura, o cheiro, buscar a melhor forma de se acomodar naquele instante, apreciar, sentir, tomar posse por alguns momentos, apaixonar-se, ser único, deslizar, virar a página para continuar a história. 
E, a não ser pelos propósitos que os estudos freudianos poderiam talvez esclarecer, "namorar" uma mulher que lê (e sabe interpretar, o que infelizmente nem todo mundo sabe) é dispor-se a um universo muitas vezes mais interessante até que o próprio livro. Basta fazer boa leitura. Beijos meus... 





"Namore uma garota que lê"


Rosemarie Urquico



Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.
Compre para ela outra xícara de café. 
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. 
Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, E. E. Cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade, mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.
É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.
Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve."


domingo, 9 de setembro de 2012

Conversinha necessária pra aceitar as coisas como são


Não é como uma onda que apaga o que a gente escreveu na areia...

Hoje fui buscar em um texto primoroso do português  Miguel Esteves Cardoso, as palavras que conversaram melhor com meu coração. E as achei perfeitas,por isso compartilho com vocês. Na verdade, eu não as busquei. Eu busquei minha amiga Fabiane e ela me deu esse Miguel. Providencial. Meu coração oscila entre paciente e imediatista, quer amar, mas quer esquecer, sente-se emocionalmente feliz, mas realista demais, não consegue um equilíbrio, parece que perdeu a adolescência da loucura das realizações, sem ligar que sejam efêmeras. Parece um velho com medo de sofrer. Parece estar perdendo a malemolência de conquistador. Pare com isso, coração! Não subestime o lugar em que você vive.


Como esquecer (e nunca esquecer...)


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa, como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já não está lá?

As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?

Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas!

É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou de coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso primeiro aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados, se tivessem apenas o peso que têm em si: isto é, se os livrássemos da carga que lhe damos, aceitando que não tem solução. Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença do que se padeceu. Muitas vezes só existe a agulha.

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças, na esperança de ele se cansar.

Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas de quem amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor. E a felicidade faz-nos sentir pena e culpa de não a podermos partilhar. É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.

As pessoas nunca deveriam morrer, nem deixarem de se amar, nem separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam e separam-se e esquecem-se. Custa aceitar que os mais velhos, que nos deram vida, tenham de dar a vida para poderem continuar vivos dentro de nós. Mas é preciso aceitar. É preciso aceitar. É preciso sofrer, dar urros, murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração. Perderíamos a religiosidade, a paciência, a humanidade até.

Há uma presença interior, uma continuação em nós de quem desapareceu, que se ressente do confronto com a presença exterior. É por isso que nunca se deve voltar a um sítio onde se tenha sido feliz. Todas as cidades se tornam realmente feias, fisicamente piores, à medida que se enraízam e alindam na memória que guardamos delas no coração. Regressar é fazer mal ao que se guardou.

Uma saudade cuida-se. Nos casos mais tristes separa-se da pessoa que a causou. Continuar com ela, ou apenas vê-la pode desfazer e destruir a beleza do sentimento. As pessoas que se amam mas não se dão bem, só conseguem amar-se bem quando não se dão. Mas como esquecer? Como deixar acabar aquela dor? É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.

Há grandeza no sofrimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio do remoinho de erros que nos revolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.

Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas das Caraíbas, livros de poesia - só há lembrança, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar fôlego. Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciência e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios.

A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.

Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amamos, de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhe compormos redondilhas, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isso conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste inexterminável barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.

O que é preciso é igualar a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça na parede, dar sangue, dar um pedacinho de carne.

E mesmo assim, mesmo magoado, mesmo sofrendo, mesmo conseguindo guardar na alma o que os braços já não conseguem agarrar, mesmo esperando, mesmo aguentando como um homem, mesmo passando os dias vestida de preto, aos soluços, dobrada sobre a areia de Nazaré, mesmo com muita paciência e muita má vontade, mesmo assim é possível que não se consiga esquecer nem um bocadinho.

Quanto mais fácil amar e lembrar alguém - –uma mãe, um filho, um amigo, um grande amor –- mais fácil deixar de amá-lo e esquecê-lo.

Raio de sorte, ó lindeza, miséria suprema do amor. Pode esquecer-se quem nos vem à lembrança, aqueles de quem nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e paciência, aqueles que amamos com paciência, aqueles que amamos sinceramente, que partiram, que nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudades, esses doem-se e depois esquecem-se mais ou menos bem.

E quando alguém está sempre presente?

Quando é tarde. Quando já não se aguenta mais. Quando já é tarde para voltar atrás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar.

Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar?
Aí está o sofrimento maior de todos. O luto verdadeiro.
Aí está a maior das felicidades.

Um beijo! 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um amigo e nossa fortaleza

Alessandro e eu, comemorando nosso aniversário em 2011. Taurinos, valentes e felizes por natureza!!


Hoje tive um momento muito especial de troca, cumplicidade, amizade, amor verdadeiro. Muito especial. Falei com meu grande amigo Alessandro Meirelles, que nomeei de "carioca da minha vida", uma pessoa das mais íntegras, honestas e de coração maravilhoso que já conheci nessa passagem. 


Mesmo contando 15 anos de profissão como jornalista, aprendi horrores com ele em cada matéria que a gente batia, em cada pauta discutida, na minha observação sobre sua percepção sagaz dos temas, opiniões certeiras sobre as coisas, as histórias de vida e sua abertura para as novidades. Um repórter incrível, um homem lindíssimo física e espiritualmente, um verdadeiro bálsamo aos olhos.

Tenho por ele um amor que nem mesmo posso explicar, tamanha a afinidade entre nós. Para mim, os cariocas têm um sol que vem de dentro e o Alessandro é a personificação dessa alegria luminosa, dessa liberdade ensolarada e de uma vontade singela de ser uma pessoa melhor. Ele é o máximo do bom na minha opinião. 

Nem preciso dizer, mas falo, a cada oportunidade que tenho, que eu o amo demais. Na redação, nossa relação era de "dupla dinâmica". A doce Camilinha que o diga!! 

Aí que veio a situação do câncer, primeiro pra mim, depois pra ele. Pessoas com muito amor têm disso. Não chamo de doença, porque acredito que não seja. É mesmo uma situação e, mesmo com todas as peripécias individuais que exige, é um período muito lindo de nossas vidas. Afinal, se a gente sonhava tanto com um momento de descanso, taí a atenção ao nosso pedido. 

Eu sofri muito quando ele me contou. Chorei rios, gritei comigo, me revoltei e questionei Deus - eu e Ele (Deus) temos essa intimidade de poder cobrar um do outro nossas necessidades. Questionei sobre o porquê do meu amigo passar por isso. Xinguei o mundo, ofendi uma mãe qualquer, soquei o volante do carro, chorei, chorei, fiquei triste de doer. Alessandro é meu camarada: se ele sente, eu também sinto. Tive a mesma reação quando perdi o Gustavo, há longos nove meses. E ainda dói.

Mas aos poucos vamos dando à vida a compreensão de que ela necessita. A gente fala com ela e ela responde como pode, uma aprendiz como nós.  E se eu passei, ele também consegue. É taurino como eu, nascidos com dois dias de diferença, é de abraços e risos fáceis omo eu, de expressão de amor escrachado, de palavras diretas, de indignação expressiva, de olhar bondoso. Somos mais que parecidos, somos iguais, irmãos de alma e isso muito me orgulha, porque tenho a liberdade de me comparar a quem tanto admiro, o que me faz crer que também sou admirável. 

Em nossa conversa de hoje, dúvidas sobre o que é normal sentir, o que é novidade e o que é a teoria do normal. Vivemos num tempo muito especial: 2012 é um ano místico, nossos dias têm 16 horas (ou quantas forem, mas com certeza menos de 24), nossos sonhos são imediatistas como nós, objetivos desesperados que transformam nossos desejos em um turbilhão interno de impaciência, mas tudo o que buscamos é um pouco mais de paz e que tudo seja leve.    

Minha queridíssima amiga Renata me apresentou uma música que virou hino e sempre toca em minha cabeça quando esse turbilhão toma conta de mim ou quando estou prestes a cair. E embora eu saiba que minha imagem é a de uma mulher forte e decidida, que realmente sou, também sou do tipo que se descobre muito frágil às vezes e tenho sentido ultimamente uma grande necessidade de ficar só, quieta, recolhida, distante.  Não é depressão, é recolhimento, é uma maturidade diferente. Adoro gente, sempre gostei, mas as gentes estão cada vez mais vazias de essência e cheias de si, falta cuidado e intuição. Então, me afasto quando quero mais, porque sei que encontro no meu interior o melhor do que há. O "puro creme".

A música que a Renata me deu, dei pro Alessandro, porque é o que quero dele neste momento. Exijo. Ele tem uma dívida de fé comigo. Ele e a bela Sâmia, sua parceira, minha amiga, mulher charmosa e inteligente, de boas conversas. 

Percebi que ele está sereno, ainda meio perdido com a ocasião, coisa natural, mas tem reforçado sua fé e eu a minha. Temos essa dívida conosco. Essa fé que nos faz imbatíveis, é o que mostra o nosso valor. O momento é aquele que pedimos à vida, meu carioca. Vamos descansar, refletir, transformar-nos, vislumbrar o novo, resplandecer, florescer. Deus dá asas. De que mais precisamos nós, seres livres? Faça seu voo. Estou contigo. Quem compra o passe de entrada em minha vida, é para sempre.  

Um beijo, carioca. Amo vc!


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Vida é colher um novo dia




 "Nosso horizonte é onde vamos estar amanhã." Né? 


Já pensei em escrever algo específico sobre dor de amor, mas ocorreu um erro. A pessoa que a sente, faz isso com tanta eficiência que não precisa de mais nada. A dor de amor nos transforma em maus pacientes, com quem não adianta gastar reza, como diz meu amado doutor agnóstico.

Tenho ouvido muitas histórias, avaliado as minhas próprias sobre o tema e noto quanta gente tenta se proteger inutilmente dessa deliciosa cilada, que todo mundo tenta evitar, mas todos querem vivenciar. Depois de sobreviver a separações, situações de angústias, de novos amores que vêm e vão, de saudade que fica e a gente não sabe o que fazer com ela, muitas vezes não por falta de experiência, mas porque esse é o tipo de coisa que marca, mas como não merece ser lembrada, o cérebro deleta, faz essa escolha por si.

Enfim... dói, mas quando passa é como a dor do parto: só se agradece pelo resultado.
Dor de amor é sinal de vida, agora, saber lidar... amigas... ninguém sabe. É uma vontade louca de mudar tudo, de sumir um pouco, de estacionar no tempo enquanto a vida passa “lá fora”, até que se esteja pronto para voltar. O grande consolo é: dói pra todo mundo. E passa pra todo mundo.

Mas como dói, hein... constante e massacrante. Mas olha só: amor que dói demais, tem que ser só história pra lembrar. Por aprendizado de seleção, acho que temos que amar a quem nos ama, aquela coisa que mãe ensina, gostar de quem gosta da gente.
Mas quando dói muito, quando a gente tá nessa, difícil enxergar. Faz parte de um pedaço da vida, né? Só que é só um pedaço. Tem tantas outras coisas para se ver em todo o tempo!

Fomos brindados com 24 horas de um dia com possibilidades de quatro estações, em que tudo pode acontecer, inclusive uma nova paixão instantânea. Não dá para pular etapas. A gente tem que viver tudo para ter história para contar, para engrossar a pele, viver o momento. Tem que chorar, descabelar-se, rir, se jogar, a gente tem que engrossar mesmo.

Tenha certeza, amiga querida, de que uma dor de amor nunca é igual à outra, só que a gente sobrevive e, ao invés de se amargurar, deve-se optar por ficar cada vez melhor. Faz muita diferença.

Bora resolver isso. Precisamos de vinho e pizza, num final de dia de quarta-feira; de um passeio naquele lugarzinho bucólico sobre a luz da lua azul, dias bons para nós, música alta, de bom astral e palavras certeiras, boas companhias, gargalhadas, choros e desabafos, mini-acessos de raiva.

A gente pode e tem todo o direito de cair e levantar, sem dar ouvidos a comentários de quem não sabe  nada sobre nós, mulheres que acordam cedo para buscar sustento, se mantêm o dia todo sobre saltos e com bocas coloridas de batom, criam filhotes amados e fortes, sobreviventes em um mundo de dúvidas, voltam para casa cansadas, mas não menos lindas, íntegras e amorosas. Cobradas para sermos fortes e mantermos a pose impecável. Certos tipos de violência como estas não nos pervertem, não nos caem como sentença. Dormimos em lençóis claros, com mentes tranquilas. É preciso ser fleumática para receber a novidade do dia seguinte.

E no mais, amiga, a gente sofre de amor todo dia! É da nossa natureza feminina amar  por percepção, pela necessidade de desejar transformar o caos. Não é discurso de miss, não somos impassíveis, não fazemos dor maior da dor dos outros. Pelo menos não a maioria de nós, o que já é mais que o empate.

Não aplacamos um amor de verdade com um novo amor, desvalorizando a felicidade essencial de ter vivenciado essa experiência, mesmo quando ela termina. O grande amor que se vai, fica guardado numa caixinha de jóia, num cantinho especial dentro da gente. Acontece que ninguém é obrigado a gostar ou a continuar gostando de ninguém, realmente, por isso ao outro – ou a nós, por que não? – o direito de ir embora.

Um conselho comum e que por isso é bom: amanhã já é outro dia e coisas maravilhosas acontecem.

Um beijo!

"...existem para você maravilhas que se fossem reveladas, a angústia da espera te sufocaria. Espere o tempo da colheita... mas não permita que seja ceifado de seus braços o direito de ser feliz enquanto espera, por mais doloroso que possa parecer." Bean