quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Todo dia é Dia do Repórter


Não temos hora pra trabalhar, não tem tempo ruim, não se pode ter medo de nada, estamos sempre de bom humor. Em nossa vida não pode haver espaço para preconceitos, lidamos com todo tipo e qualidade de gente, gostar de pessoas é fundamental.
Existe um super-herói dentro do repórter, com superpoderes que antes de precisar a gene sequer sabia que tinha. Tem o poder das "pernas-pra-que-te-quero", do "cala-a-boca-já-morreu", do "sou repórter, não sou Deus, nem polícia, nem prefeitura", dos dedinhos a jato no deadline, do palhaço de circo pra amenizar uma notícia muito ruim quando se está na redação, da criatividade extraordinária para fazer da desgraça a piada do dia, do amor à causa do próximo mesmo quando o próximo é tão distante, o poder da matemática e da sabedoria sobe todas as coisas (nem que seja uma linha do assunto, o repórter sempre sabe), entre outros poderes.
Mas certamente o principal deles é o poder elástico. Não importa nosso tamanho, a gente se joga numa coletiva, se espreme, abaixa, pula, fica nas pontas dos pés, aumenta a voz e se faz ouvir. Depois sai, descabelado, suado, irritado, concentrado, desarrumado, amassado... mas fez a pergunta, o entrevistado deu aquela resposta, o repórter está satisfeito, já tem seu lead, a foto deu certo, vamos em frente.
Somos ilustres anônimos, que têm a chave da porta de todas as casas e entramos diariamente com muito respeito para entregar a notícia como nosso produto.
Nunca tive dúvida: quando escolhi ser jornalista, era para ser repórter que eu queria essa profissão. Gosto da correria, da tensão, da raiva, da emoção, do embate, da falta de monotonia na rotina, gosto de chegar em casa e descansar depois de vibrar com meu dia, gosto de ver meu nome publicado sobre a notícia que vai virar assunto do dia nas rodinhas da cidade, gosto de conhecer gente em todo o canto, ter a chance de viajar com outro olhar para as paisagens, gosto da liberdade que essa vida me dá e aceito a que ela me tira. Sou muito feliz por minha escolha.
Um beijo muito carinhoso à família que essa profissão maravilhosamente louca me deu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Uma olhadinha no passado


Essa tarde tive um encontro sutil e surpreendente com meu passado. Fazia tempo que vinha protelando vasculhar aquelas caixas que guardavam memórias, desde papéis, fotos e objetos que já não fazem mais parte de agora, mas que foram importantes em certos períodos de minha vida.
Foi como tirar lenços coloridos, um a um, cada qual com seu valor. Descartei muitas coisas, limpei as caixas, revi personagens, joguei fora lembranças materiais que hoje acredito só servem como entulhos, já que as boas a gente guarda mesmo na mente.
Me deparei com diversos detalhes que não me agradaram e acho que por isso mesmo resistia a fuçá-los.
Fui uma mãe muito brincalhona, de mente aberta a conversas de todo o tipo e disposta a promover experiências que julgava enriquecedoras às vidinhas que proliferavam em meu entorno. Mas também fui muito  exigente e rígida, dura demais às vezes, poderia ter sido melhor, menos preocupada. O que importa é que tudo isso - sem um manual de comportamento ditado, como ninguém tem - ajudou a formar o caráter de minha filha Mariana e contribuir para momentos importantes na vida das filhas que a vida me deu: Daniela, Bárbara e principalmente a Jéssica. 
Notei que fui uma jovem observadora, responsável demais, exigente demais comigo também e muito velha, tanto na postura como nas roupas. Mas na época eu não sabia disso. A ignorância tem a capacidade de nos manter felizes. Hoje acho que tudo o que é demais, tende ao desequilíbrio. O ideal é dosar.
Também descobri que tive um sorriso constante, às vezes escancarado, mas na maioria de Monalisa. Pelo menos nas fotografias, o que não significa que não era feliz. Sempre fui.
Tive cuidado com os sentimentos e as batalhas diárias das pessoas em minha volta e fiz as coisas por amor essencialmente. Parece uma incoerência essa mistura da racional responsabilidade com o emocional do amor que sempre guiou minhas atitudes, mas não se tratava de ser emotiva, mas de levar a vida com a simplicidade de quem ama.
Me agrada ter sido assim e tem algumas coisas que eu faria diferente. Entre elas, a preocupação demais para alcançar o fio da perfeição do que eu queria, de como gostaria de ser vista, do bom comportamento para se chegar a algum objetivo. Tudo bobagem! O que está, está, e não se pode mudar, mas também mudar pra quê? 
No final, a vida decide pela gente e somos obrigados a aceitar, não como conformismo, mas como alternativa para evitar a dureza. Sério, eu acho um sinal de sabedoria.
Hoje, sinto que sou mais jovem de aparência, mais leve nas atitudes. Alcancei um nível de respeito e amor próprios que me tornam uma pessoa segura, decidida e bem sucedida na maioria das coisas. Era o que eu queria? Parece que sim, se é o que expresso. 
Sou mais madura e menos dura com a vida. Logo faço meus 39 anos e essa maturidade chegando, tem sido linda para mim. Poxa, eu gosto mesmo! Como imaginei mesmo com certo receio: nada planejado, tudo a se projetar, descobrir, se surpreender, possibilitar.
Ainda tenho muito a aprender e espero viver sempre com essa perspectiva. Eu gosto da linda mulher que me tornei e que ainda se admira, brinca e conversa sozinha com o espelho, se descobre, se respeita e sorri muito, ainda como se fosse menina.